@Cartas de duas jovens mulheres
De: Maria Tarrinha mtarrinha@gmail.com
Para: Catarina Pereira catarinaspereira@gmail.com
Data: 25 de Abril de 2009 16:10
Para: Catarina Pereira catarinaspereira@gmail.com
Data: 25 de Abril de 2009 16:10
A nossa vida também é feita de dias difíceis. Há quase 1 ano e pouco soubemos que o cancro da mama que a minha avó tinha tratado não tinha sido removido na totalidade e que, portanto, estava a alastrar para o resto do corpo. Fomos sabendo do cancro nos ossos, do cancro do pulmão, enfim, de um sem número de órgãos atingidos. Mentalizaram-nos para 1 ano de vida e prepararam-nos para o pior, alertando que os dias seriam feitos de perdas e lutas, e que melhoras seriam esporádicas. Há 4 meses, andar já era mais difícil para a minha avó, mas ainda amassou as filhoses na véspera de Natal. Desde aí as visitas tinham encontros de choque disfarçados com sorrisos e piadas, agradecendo a cada reencontro e vendo cada despedida como uma possível última vez. Vimos uma flor a murchar, a cada dia que passava a flor murchava cada vez mais. Já não era mais a minha avó, a mulher forte e determinada, aquela que fazia tudo e que era a típica "super-mulher", como mãe, como avó, como sogra e como tia, era desenrascada como tudo, acredita! Nas últimas semanas estava mesmo em estado terminal e na quarta-feira não resistiu à doença e foi para um sítio muito melhor onde agora está, sem sofrimento nenhum e em paz com Deus.Por entre lágrimas e silêncios, nos últimos dias enchemos a casa de amor. Ainda meios perdidos com um presente que se fez pretérito imperfeito, transformámos os laços em força e o amor em ânimo. Unimo-nos e sofremos juntos. Fizemos um serão de primos e andámos sempre juntos. Dividimo-nos entre camas e dormimos todos no mesmo quarto. Vivemos horas e momentos em família que já não viviamos há muito tempo. Estivémos sempre como a minha avó, onde quer que ela esteja, sempre quis. Conseguimos rir, chorar, consolar e sofrer juntos e fomos a força uns dos outros. Tranformámos a casa numa casa de amor e fizémos dos dias as memórias bonitas da minha avó.Multiplicámo-nos em abraços e carinhos e entrelaçámos as mãos, unidos por um amor tão grande e tão forte, capaz até de nos fazer acreditar profundamente que a avó Laura estará sempre connosco, ainda que nos doa tanto a falta que ela nos faz.Dias de amor e ternura e um coração cheio de carinho dos amigos que nunca me deixaram.Obrigada pela presença e pela preocupação, estiveste sempre comigo.Um abraço enorme, do tamanho do Mundo e arredores.
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