COMO AS CRIANÇAS NOS TRANSFORMAM...

Já posso andar na água com o Salvador e percorrer com ele a vala à procura da ilha das couves. Agora que também tenho as minhas rainboots, posso finalmente chapinhar no rio que por estes dias ouvimos engrossar de caudal.

Repetindo com ele partilho da sua felicidade: poder correr na água sem ter de arregaçar as calças, ver os pés desaparecerem entre a lama e calcar pedras gigantes ou uma cama de folhas de outono encharcadas. Fazer tudo isto é tão divertido como descer de bicicleta a rampa sem ter os pés nos pedais gritando até fazer eco no pinhal ou comer um gelado debaixo de um guarda-chuva lá fora. Dou por mim a gostar cada vez mais do inverno desde que sou mãe.

Hoje tivemos um final de tarde magnifico, um céu de inverno que se foi transformando de cinzento numa palete rosa com direito a névoa na despedida dos últimos raios de luz. Com dias como os que temos vivido por aqui, confirmo que habitar este lugar é mesmo um verdadeiro privilégio.

Hoje encerrámos 15 dias cansativos, mas simultaneamente enternecedores. Cansativos porque no trabalho de ambos estes foram dias de compromissos prolongados para além dos horários, enternecedores porque aproveitámos todos os minutos livres para fazermos o que os três gostamos. Houve tempo para bonecos na televisão, para abusar da lareira, para transportar lenha no tractor, para sentir o cheiro que se vê nas chaminés, para dormirmos e acordarmos a meio dos filmes, para nos deixarmos embalar nas manhãs que despertam com a força da água e a leveza dos pássaros que vão ficando mesmo depois da Primavera e tempo para ler. As pinturas espalharam o cheiro a tinta pela casa e as roupas de bebé saíram da gaveta. Começámos o novo ano com tempo para planear os próximos meses e isso entusiasma-me tanto que tenho a cabeça num frenesim de ideias.