CONVERSAS INTERIORES

Filho,
Para não variar, ainda não acertei com as semanas: eu anotava 30 por estes dias, o obstetra registou 28. Acho que fiquei baralhada com a morfológica. Desde Novembro que ando duas semanas adiantada do calendário. Talvez da ansiedade crescente em te acolhermos.
Ontem, a caminho da consulta, sentei-me, propositadamente, no banco de trás ao lado do teu irmão. Faço questão de o incluir nos nossos pensamentos e expectativas quando falamos de ti. Observava-o de mãos pousadas no regaço, ansioso e contente, disparava observações caricatas sobre a cor fotografia que ia poder ver na televisão do médico, e não pude deixar de me emocionar. Fiz rewind ao abraço, selado a três a 13 de Novembro. Quando um filho com 3 anos e meio chora de felicidade ao saber que o seu irmão era um rapaz, bebé perfeito até onde é possível garantir naquela fase, isso marca-nos! Desde esse momento que me permito idealizar um reencontro a 4 para um novo inicio. Como se sentisse desde já que esse dia vai marcar as nossas vidas para sempre. Aguardemos os dias em que ainda nos podemos imaginar.

Entretanto, aquilo que mais desejo é que através do fio que agora nos une e nos vai separar em breve, possas alimentar-te também do que nós vemos: um irmão sensível que nos surpreende na sua particular e delicada forma de expressar o que sente. Fica sabendo que há algum tempo que és a primeira pessoa que ele procura para dar um beijinho de bom dia e até já perdi a conta às coisas que ele te quer contar. "Segredos," diz-me.