PARA LÁ DAS NUVENS, A SERRA

Escolhemos um dia, em contracorrente, e escalamos o ponto mais alto do país. Em duas horas de vagar um dia desfez-se no céu ao longo da nossa viagem, arrumando raios entre as nuvens e afundando no mar uma miscelânea de cores quentes e tons carregados. A Serra da Estrela aqui tão perto!

Para o passeio, a rádio anunciava chuva, mas a surpresa de um céu limpo inaugurou um dia luminoso repleto de perguntas e muita expectativa. Nas interrogações do Salvador a ansiedade que, ano após ano, entrou comigo no carro, juntamente com os gorros, as luvas e os plásticos sempre que o destino anunciado de véspera era a Serra da Estrela.

Connosco a serra seguiu viagem, de um lado e outro, envolta numa luz morna de Primavera. O sossego e a altitude da paisagem elevam qualquer alma ao céu, sobretudo as gulosas de espiritualidade. Vimos "viennettas" ,aqui e ali, com uma brancura fininha, em vias de se extinguir. Entoámos cânticos e foi a paródia cheia de migalhas do costume. Um dia de excentricidade, qual euromilhões qual quê. Por algumas horas tivemos uma serra só para nós.

Na descida saciámos a curiosidade e a fome, com uma paragem no Museu do Pão. Ali, entre visita e descanso, o tempo foi sobretudo de prova e satisfação. Um museu cujo investimento/modelo de funcionamento vale a pena conhecer, sem pressas e de preferência à semana com uma boa dose de apetite. Com tempo para apreciar a mercearia que existe no espaço e ouvir a história do pão contada às crianças.