ADAPTAÇÕES

(a propósito de uma conversa, num jantar de amigas, vim para casa mais tarde e como o meu companheiro de viagem ainda não fala, acabei por ir fazendo conversa mental...)

Uma das perguntas-chave, nas conversas, desde que temos o Sebastião tem sido: e o Salvador?

Fico sempre com a sensação que é impossível colocar numa resposta toda a transformação que um novo filho/irmão imprime numa família. Para me tentar organizar e ser o mais sncera possível divido quase sempre a resposta entre connosco e com o irmão, porque é assim que tento perceber, também eu, o que tem mudado.

Com o irmão o Salvador tem sido meigo, delicado, brincalhão e atencioso. De vez em quando fala com ele à criança e nós tentamos que ele faça como nós, falando correctamente, porque é como nós o fizermos que ele vai aprender por isso mais vale fazermos logo bem. Quando estou a amamentar reparo que há ali um misto de vontade de fazer o mesmo e vergonha de ser grande para o fazer. Nestas alturas, se o Pedro não está, tento conversar com ele sobre outras coisas ou distraí-lo do que estou a fazer. Aproveito para as conversas onde ele é o tema. Continuamos a fazer imensas coisas quando estamos juntos, seja no final do dia ou no final da semana. Sempre que possível tento ter tempo só para ele, nem que sejam 30 minutos ou umas defesas exageradas de guarda-redes que vai actuando na baliza. Tantas vezes já tive de jogar às escondidas com o Sebastião ao colo correndo casa fora e deixando que o Salvador ganhe. Mas se com o irmão temos observado o nosso Salvador, carinhoso e desprendido, connosco anda mais distante e calado, depois melga e mimado. Está mais desobediente e a cada indicação nossa há uma indiferença quase desafiadora. Umas vezes conversamos, explicamos, tentamos entender outras não vale a pena, ignoramos, dá castigo ou palmada. Vamos-nos entendendo com conversas regulares sobre como andam os nossos meninos !

Apesar de ser uma entrega bastante exigente seria injusto não nos empenharmos a fundo nesta fase de adaptação à tranformação que sofreu o nosso núcleo familiar. Afinal fomos nós que o decidimos e as opções acrescem responsabilidades, eles os 2 não podem ser vítimas das nossas escolhas. Há que o fazer não só por quem já cá está, mas também por quem chega, para que possamos redescobrir o lugar de cada um e repartir o amor que se multiplicou da forma mais harmoniosa possível. Queremos que eles cresçam a sentir que cada um tem o seu lugar, ninguém veio ou vai roubar nada a ninguém, muito pelo contrário: quantos mais formos melhores poderemos ser, em tolerância, em respeito pelas diferenças, em diversidade e em afectividade. Já para não falar no soma de novidades e ideias que aqui vão crescendo.

Não podemos esquecer que durante 4 anos sempre fomos tudo para o Salvador, brinquedo e brincadeira, pais e crianças. Os nossos dias nunca foram iguais e, apesar de sempre envolvidos em inúmeros projectos e afazeres além do trabalho, um de nós teve sempre o Salvador como prioridade. Ao percorrermos com frequência a nossa história temos recordações e momentos inesquecíveis, de experiências, lugares e pessoas. Juntos já fizemos coisas extraordinárias! Por isso, e apesar de sabermos que tanto para nós como para ele, este não é um processo simples e imediato, como a pergunta que todos colocam,também nós estamos em adaptação, a digerir esta gestão de tempo e criatividade que até agora tinha apenas um destinatário.

Por isso, à pergunta sobre e o Salvador com o Sebastião, seria sempre preferível - E a família, como se está a adaptar ao novo núcleo? diria que estamos todos em processo de adaptação. Tem dias em que tudo corre bem, há sossego, risos, muito mimo, brincadeiras, passeios e conversas em refeições a três. Tem outros em que tudo está virado do avesso, um está chato o outro aborrecido, um não quer falar, não nos conseguimos sentar para comer ou sair sem discutir, mas no meio desta alternância de estados de espirito há um sentimento que não muda e já nos fez rir e chorar ao mesmo tempo: o amor.
Gostamos imenso uns dos outros e nEM nos imaginamoS sem Sermos 4 nunca mais. E depois há sempre aquele sentido de humor que ajuda imenso a inverter de uns dias para os outros, QUINTUPLICANDO os melhores e indo eliminando os menos bons.

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